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14 de janeiro de 2009

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano

«Eles serão unidos na tua mão» (Ez 37, 17)

Por Manuel Augusto Rodrigues

Mais uma vez se vai realizar de 18 a 25 do corrente a Semana da Unidade dos Cristãos. Estas datas foram propostas em 1908 por Paul Wattson de forma a cobrir o período que decorre entre a festa de S. Pedro e a de S. Paulo, o que tem um significado simbólico, ainda maior quando se celebra o ano paulino.
O tema geral escolhido para este ano foi extraído do livro de Ezequiel onde se lê: «Eles serão unidos na tua mão» que aparece em 31, 17, devendo contudo enquadrá-lo no seu contexto, tendo em especial atenção os vv. 15-28.
O Conselho Pontifício para a promoção da Unidade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Ecuménico das Igrejas prepararam os textos à luz do projecto elaborado pelas Igrejas da Coreia, os quais seguimos de perto neste trabalho. Vale a pena lê-los atendendo à sua grande riqueza teológica, bíblica e litúrgica e também pelas valiosas considerações sobre problemas da actualidade.
Os textos desta Semana provêm da experiência das Igrejas da Coreia. As Igrejas procuraram face à divisão dos seus países a inspiração do profeta Ezequiel que viveu igualmente num país tragicamente dividido e aspirava à unidade para o seu povo. Ezequiel que era simultaneamente profeta e sacerdote foi chamado por Deus na idade de 30 anos e a sua actividade teve lugar de 594 a 571 a. C.
Foi bastante influenciado pelas reformas políticas e religiosas levadas a cabo pelo rei Josias em 621 a. C. Tentou restabelecer a lei e o verdadeiro culto do Deus de Israel. Tinha como objectivo eliminar a nefasta herança deixada pela precedente conquista de Judá pelos Assírios. Após a morte de Josias, seu filho, o rei Joaquim, prestou homenagem ao Egipto e o culto de muitos deuses espalhou-se por toda a parte. Os profetas ousando criticar Joaquim foram eliminados.
Depois da invasão e a destruição do templo em 587 a. C., entre os mais responsáveis do país contava-se Ezequiel e muitos foram capturados e deportados para Babilónia. Aí, Ezequiel, como Jeremias, criticou os «profetas» que suscitavam esperanças pouco realistas e, desse facto, endureceu a hostilidade e a rejeição de seus irmãos israelitas no exílio.
Apesar de tais sofrimentos, o amor de Ezequiel para com o seu povo não cessou de aumentar. Criticava os chefes que agiam contra os mandamentos de Deus e procurou levar o seu povo a Deus, pondo em destaque que Deus continua fiel à aliança que selara com o seu povo com o qual é solidário.
Ezequiel não esperava e proclamava uma mensagem de esperança: a renovação e a unidade do povo de Deus que Deus deseja acima de tudo e que poderia ser realizada.
Duas visões encorajaram o profeta nos seus esforços: a primeira é a do vale e dos ossos ressequidos que, pela acção do Espírito de Deus, retomam a vida (Ez 37, 1-14). Os textos da Semana da Unidade deste ano inspiram-se na segunda visão em que dois pedaços de madeira simbolizam os dois reinos em que Israel havia sido dividido. Os nomes das tribos de cada um dos dois reinos (2 das tribos do Norte e 10 ao Sul) são inscritos sobre esses pedaços de madeira que depois se aproximam de modo a formarem apenas um (Ez 37, 15-23). Ezequiel via a divisão como consequência do pecado e do afastamento de Deus. Formar de novo um só povo era possível com a condição da renúncia ao pecado e da conversão e de regresso a Deus. Mas em definitivo, é Deus que une o seu povo purificando-o, renovando-o e livrando-o das suas divisões.
Para Ezequiel, esta unidade não é uma simples renovação de grupos separados; trata-se sim de uma nova criação, do nascimento de um novo povo que devia ser um sinal de esperança para todos os povos e para a humanidade inteira. A esperança, a reconciliação e a unidade encontram-se onde Deus quer.
Num outro texto muito caro às Igrejas da Coreia, Apocalipse 21, 3-4, fala-se da purificação do povo de Deus que é chamado a incarnar a paz verdadeira, a reconciliação e a unidade: «Ele ficará com eles. Eles serão os seus povos e sucederá que Deus está com eles. Ele enxugará as lágrimas dos seus olhos. Não mais será a morte. Não haverá nem luto, nem grito, nem sofrimento». A unidade é um dom de Deus, mas necessitando a conversão e a renovação; a unidade entendida como nova criação e a esperança de que o povo de Deus possa finalmente ser um.
Aspectos em estudo para a Semana da Unidade reportam-se ao povo da Coreia, uma nação unida durante 5000 anos; ao Norte e o Sul: reconciliação e colaboração; à ultrapassagem dos conflitos e à divisão que causam obstáculo a unidade e à unificação; e à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no contexto do movimento ecuménico dos cristãos.
Eis os temas seleccionados para a celebração litúrgica dos oito dias da Semana Ecuménica (e para todo o ano). No primeiro dia, «As comunidades cristãs face às divisões antigas; no segundo, «Os cristãos face à guerra e à violência»; no terceiro, «Os cristãos face à injustiça económica e à pobreza»; no quarto, «Os cristãos face à crise ecológica»; no quinto, «Os cristãos face às descriminações e aos preconceitos sociais»; no sexto, «Os cristãos face à doença e ao sofrimento»; no sétimo, «Os cristãos face ao pluralismo religioso»; no oitavo, «Os cristãos proclamam a esperança num mundo dividido».
Estamos perante assuntos que, para além da sua dimensão religiosa, apontam para a resposta às prementes questões com que a humanidade hoje se confronta.

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