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14 de janeiro de 2009

Velhice Abençoada

João Evangelista R. Jorge

Todos aspiram a chegar a essa idade com excepção de alguns doentes ou frustrados. E, uma vez lá chegados, que mundo de desilusões, de surpresas inesperadas, de angústias existenciais, de solidões!
Reconhecidos como adultos em pleno gozo dos seus direitos e deveres, os idosos (convém não usar a palavra velho, porque tem muitas conotações negativas) constituem uma categoria humana que se descobre na caminhada que vai da situação de Senhor à de Dependente. Esta categoria emparceira muitas vezes com a categoria dos pobres, dos abandonados ou angustiados, das crianças, das inutilidades (ou idades inúteis).
A comparação com a juventude, usada como expressão de simpatia ou de elogio para captar as graças dos idosos (Velhos) é um cumprimento enganador. Quando o velho precisa de imitar os jovens para valer, é sinal de que está mesmo velho. E quando o velho tem de reivindicar a sua autoridade e poder com um murro na mesa é sinal evidente de que já não se lhe reconhece essa autoridade. Entrou na categoria das pessoas idosas.
Poderá a velhice ser uma realidade humana abençoada?
Não pode deixar de ser, se a considerarmos um Dom de Deus, do Senhor da Vida. A longa vida não é mérito pessoal, Deus só precisará da colaboração das pessoas, na contenção de alguns naturais exageros no comer, no beber, no divertir-se e treino da cultura de hábitos virtuosos.
Tratando-se de um Dom de Deus a primeira reacção de quem tem a Fé e atingiu a idade avançada é dar graças a Deus e a segunda é assumir-se como pessoa idosa.
À luz duma velhice assumida, tudo adquire uma significação nova. A velhice torna-se tempo de avaliação e de acção de graças; tempo de rectificação de desvios; tempo de valorização do sofrimento como meio para atingir novos valores morais e espirituais e com eles a Sabedoria; tempo de distinguir o que é essencial à vida do que é acessório, o que é efémero e transitório do que é eterno.
A velhice não necessita ser comparada com a juventude para mostrar o que vale como reserva de sensatez, de equilíbrio nos juízos de valor, de criatividade no acerto em soluções para muitos problemas difíceis.
Longe vai o tempo em que a velhice era respeitada e aproveitada pela sua capacidade de aconselhar, de apaziguar, de moderar sonhos e utopias com a sua clara sabedoria dos tempos antigos. Não vamos cair no exagero de pensar repor as coisas como eram dantes, mas solicitamos o nosso direito de afirmar que partes da crise (ou crises) em que vivemos seriam menos penosas se se aproveitasse melhor o enorme potencial de energias e de saber de tantos velhos ainda válidos.
A Igreja Católica encontrou nos presbíteros (= mais velhos) e Bispos desde a sua origem a sua força e a sabedoria necessárias para bem servir a difusão da mensagem Cristã por todo o mundo. Ainda hoje os padres novos são integrados na ordem dos presbíteros, assim a missão que lhes é confiada, exige qualidades e méritos de pessoas idosas.
A sabedoria da velhice não é erudição é uma síntese da teoria e da prática, recolhidas ao longo da vida.
Velhice abençoada será por nos abrir os olhos e ajudar a descobrir a vacuidade de tantos sonhos da juventude, por nos acolher na sua penumbra onde se aperfeiçoam as sínteses da peregrinação vivida neste mundo e se enche a alma e o espírito de Vida Eterna.

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