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14 de janeiro de 2009

Inventariação da Paróquia de Vila Seca

Por José Eduardo Reis Coutinho

A 14 deste mês, ficou completado o quanto faltava à plena inventariação da paróquia de Vila Seca, cuja tarefa inclui 54 novas fichas e a reportagem fotográfica de todo o património, sempre acompanhada pelo senhor Prior, o Padre Rolando dos Prazeres Simões, e pelo senhor Padre Amílcar dos Santos Neves.
Esta pequena circunscrição, decerto integrada na área influente de Conímbriga, da qual dista menos de duas léguas, deve ter tido habitantes, desde tempos recuados, sendo verosímil a designação composta que, na medievalidade, a circunstancia geograficamente, para nascente dos montes rochosos e colinas de Alcabideque, e desprovida dos extensos terrenos agrícolas, optimamente irrigados, neste fértil planalto da velha Condeixa, herdeira da civitas romana.
Isto tem perfeito enquadramento na panorâmica toponímica, datável da mesma periodização, exemplificada em Villa Sicca, denotando medievalismo, pré-nacional, através do termo arcaico villa, de sentido territorial, agrário e populacional, Alcouce – o arco -, e Balaus, maioritariamente de origem antiga, obscura, e de significação desconhecida, apesar de poderem provir de possíveis influências islamizadas, o que nada surpreende, nas cercanias de Coimbra, notável centro de moçarabismo, até finais do século XII.
Ocorre, pois, a suposição, consentânea com muitas outras situações similares, de os numerosos casais agrários serem, apenas, possuídos por gente do povo, facto suficiente para presumir que as respectivas fundações são devidas à população de povoadores locais, logo nos alvores da Nacionalidade, ou, em próximas épocas precedentes, até porque o próprio silêncio histórico, sobre tais aglomerados humanos, é, somente, devido à falta de documentação escrita, salvaguardada nos devidos cartórios senhoriais.
Um diferente horizonte surge acerca dos topónimos Bruscos e Ribaldo, porquanto traduzem indícios bem mais consistentes: este é o nome pessoal, medievo, de proveniência germânica e de uso corrente, até à centúria de Duzentos, e de manifesta ligação a Dom Rabaldo Afonso, importante autoridade dos tempos sesnandinos, henriquinos e, também, teresianos, da região conimbricense, o qual teve, nestas paragens e na zona periférica de Coimbra, principalmente, assinaladas possessões territoriais, sendo crível que dele descenda a estirpe medieva dos de Bruscos, algumas vezes mencionada nas Inquirições e nos enunciados linhagísticos, do mesmo século XIII, como aparece acerca de Dona Sancha Pais de Bruscos.
Basta lembrar a carta de venda, que Dom Afonso Henriques e a Rainha Dona Mafalda fizeram, em 25 de Outubro de 1147, de bens situados em Podentes, delimitados inter penela et inter miranda et inter bruscos et ladeia, quomodo diuidit (…) cum bruscos (ANTT, Documentos de Santa Cruz), ao alcaide de Coimbra, Dom Rodrigo Pais, pelos bons serviços recebidos, et uxori uestre eluire rabaldiz, facto que admite terem os compradores já, pelas vizinhanças, propriedades herdadas da rica-dona, indubitavelmente filha do referido magnate, que decidiram ampliar, pelo preço de 150 morabitinos, e ficaram vinculados na toponímia, secularmente respeitada.
Com a albergaria, lá existente, teria havido igual origem, no mesmo tronco familiar, visto tais instituições traduzirem atitudes piedosas da classe nobilitada, alto-medieval. O ter surgido adstrita à igreja, pelo homónimo título de São Pedro e pelas obrigações inerentes ao imóvel religioso, pode sugerir a causa eficiente da fixação humana, bem assim de várias garantias locais, como deter rendas suficientes para reparações do templo, socorrer os moradores pobres e os transeuntes, munidos de carta de guia, como constava nos finais do século XIX.
De facto, a sobrevivência, quase milenar, dessa fundação só fora possível a partir de uma substancial dotação e, isto, através da elevada importância dos instituidores, os quais, novamente, reaparecem presumidos no alto rendimento do valor de 150 libras, em que a igreja – de Bruscos – estava taxada, em 1321, e por ser, no século XVIII, priorado da apresentação da Sé de Coimbra que, em Janeiro de 1133, recebera benefícios de Álvaro Rabaldes, por prejuízos causados (Livro Preto, doc.440).
Felizmente, a componente patrimonial, ainda conservada, reporta boa imaginária, dos séculos XIV a XVI, em calcário; quatrocentistas, em madeira; azulejos hispano-árabes e barrocos; paramentaria, de Seiscentos; lambris azulejares, esculturas, talha, pratas, metais e livro antigo, setecentistas; vários utensílios, destas características estéticas; e materiais avulsos, informadores de preferências adoptadas, na sucessão das gerações crentes, acerca do embelezamento dos locais de culto, dos destaques devocionais e do fervor deposto na perenidade da veneração prestada aos santos e aos mártires, com evidente realce da centralidade cristológica.

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