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19 de junho de 2008

Formar leigos: um meio ou um fim?


Parece que a grande aposta diocesana nos próximos tempos será a formação dos leigos. Mas formar leigos para quê? Para se instruírem nas ciências de Deus e obterem um diploma? Ou para "aprenderem" a conhecer (e "des+cobrir") a sua "admirável vocação", tomando consciência do seu papel imprescindível no mundo do trabalho, da política, da cultura, da educação, e também do seu papel "co-responsabilizante" dentro da Igreja? Sejamos práticos e directos. A Igreja no nosso País, e em particular na nossa diocese, está a perder força, protagonismo e fiéis. Também tem falta de sacerdotes para preencherem uma estrutura organizativa construída para outros tempos e mentalidades. Enquanto o clero era abundante, os leigos "não tinham voto na matéria", cabendo-lhes ouvir, assistir, ajudar, obedecer. E tudo corria bem, pois até o ambiente era favorável. Mas os tempos (e as mentalidades) mudaram. Graças a Deus. Só que a (nossa) Igreja não se foi preparando para tal, evitando, até à última, deixar-se arejar por um Concílio já realizado há mais de quarenta anos (que nos tempos de hoje são uma eternidade…).
Não havendo padres diocesanos suficientes, ainda se pensa "importar" sacerdotes de outras paragens, para colmatar brechas. Como, mesmo assim, as lacunas são imensas, olha-se, finalmente, para os outros baptizados – os fiéis leigos. Mas a ideia geral que por aí paira é que eles não estão preparados, "formados". Será que não? Deixemos isto para outra conversa e vamos à questão em epígrafe: o nosso objectivo será a formação dos leigos, ou, porque queremos uma Igreja – assembleia de todos os crentes – precisamos que os baptizados estejam bem preparados para assumirem as suas tarefas? Ou seja, o nosso objectivo próximo não deverá ser antes promover o papel do leigo dentro da Igreja (porque se ele for promovido aqui, também o será, certamente, "lá fora", na sociedade), de maneira a resolver problemas prementes (tais como comunidades sem párocos) e, sobretudo, ajudar a pensar em novas formas de organização interna para responder aos novos sinais dos tempos?
E porque a resposta é, de certo, afirmativa, então precisamos de formar os leigos (e não só) para estes novos desafios. Sendo assim, a formação dos leigos não será um "fim", mas somente um "meio". E a aposta para os tempos mais próximos, poderia ser, por exemplo, a constituição de uma bolsa de leigos "animadores de comunidades", "agentes pastorais", etc., que assumissem um papel de altíssima responsabilidade nas paróquias (aliás, como já sucede por essa Europa fora há mais de vinte anos).
Neste sentido, não teríamos (mais) dois ou três anos de espera, mas desde já, a partir do próximo ano pastoral, a par da tal "formação", começaríamos com experiências deste tipo, uma vez que já existem leigos com muita formação, muita competência, muita fé e com provas dadas nas suas comunidades. (E estou a lembrar-me de tantos leigos investidos de ministérios, muitos dos quais já incumbidos de animarem celebrações dominicais na ausência de presbítero; e estou a lembrar-me de tantos ex-seminaristas, alguns dos quais com o curso teológico completo; e estou a lembrar-me de tantos catequistas, muitos dos quais com cursos e mais cursos no seu currículo; e estou a lembrar-me de tantos outros leigos com a preocupação constante em ler muito sobre as ciências de Deus, em frequentar retiros, cursos, jornadas, etc., muitos dos quais até aposentados e com alguma liberdade de acção; e estou a lembrar-me de leigos consagrados; etc.).
Não adiemos, pois, possíveis (e naturais) soluções da crise (positiva) que nos envolve, e ensaiemos desde já, modelos criativos e inovadores que rompam com a passividade, a rotina, os medos, os amuos, as "invejazinhas", os monopólios, as "capelinhas", os "individualismos", que (ainda) são tão característicos dos nossos comportamentos eclesiais. E, sem nos deixarmos asfixiar por bonitos programas e muitos esquemas teóricos, cuidemos em ser minimamente organizados: definamos metas, estratégias, períodos temporais de actuação, zonas-piloto para a experimentação. E depois, não nos esqueçamos de avaliar – em conjunto! - as nossas actuações, para não insistirmos nos mesmos erros e para ensaiarmos, com ousadia e criatividade, novos voos. E que estes voos sejam acompanhados de perto, mesmo de muito perto, pelo Espírito de Deus…

Jorge Cotovio

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