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5 de dezembro de 2006

Profetas da vida

O Presidente da República tomou a decisão de convocar o povo português para o referendo, marcado para o dia 11 de Fevereiro de 2007, a favor ou contra o aborto. Digo-o assim, porque é disto que se trata, demarcando-me claramente da pergunta decidida pelos deputados, pois usaram uma linguagem claramente ambígua. E neste capítulo da vida não pode haver subterfúgios e desvios, como parece que existe em muitas mentes dos defensores da apregoada “despenalização”. Assim, cada um de nós é chamado a tomar uma posição coerente e honesta, numa consciência bem formada, que não pode levantar suspeitas de ser errónea.

Fiquei estupefacto, quando o Canal 1 da RTP, no telejornal do dia 30 de Novembro, noticiou com surpresa ter a Rádio Renascença, na nota de abertura das 8H00, tomado a decisão clara contra a despenalização, prometendo total liberdade e isenção, como é seu timbre, no acompanhamento desta problemática. Parece que alguns jornalistas ignoram que as empresas de comunicação social possuem estatuto editorial, para servir de orientação superior à definição deontológica do serviço que prestam. É estranho haver muita gente a pensar que vai descobrir só agora, ao avizinhar-se o debate que antecede o referendo, quando começa a vida humana. Isso sim, que saibam descobrir a distinção entre o corpo da mulher e o novo ser, não se identificando nem confundindo. E que se procurem as medidas acertadas para resolver os problemas da mulher, que deve ser tratada com toda a dignidade, sem que se tenham de lesar os direitos às vítimas inocentes. Não se resolve nenhum problema, pelo contrário se agrava mais, quando se ataca e menospreza totalmente os que não se podem defender.

Não será altura de encarar o problema na sua raiz? Não deveremos ser intelectualmente honestos, para descobrir o sentido da sexualidade, da natureza do corpo, feito para o amor e a vida, da capacidade de autodomínio, face aos impulsos biológicos da natureza, da educação dos afectos, do respeito pelos outros, etc., etc.? Ou achamos que a liberdade tem que ser total, sem regras nem limites, entregando-se aos instintos, à satisfação insaciável do prazer, à escravidão do egoísmo, que sacrifica tudo e todos? Não será altura de termos juízo e equilíbrio, sem atirar a culpa para fora, sacrificar os inocentes, e não conseguir resolver os problemas de frente? E não venham querer acusar-nos de reaccionários, conservadores, fundamentalistas e retrógrados, contra um pseudo progressismo, e não sei que mais, porque afinal essa carapuça serve a quem no-la quer enfiar.

Meus amigos, a verdadeira questão está aqui, Resolva-se cada problema dentro do seu âmbito, não se procurem falsas soluções. E então entender-nos-emos. Se, afinal, os defensores do sim dizem não ser pelo aborto, então tenham a coragem de chamar cada coisa pelo seu nome, de resolver cada problema por si, e não atirar sobre bodes expiatórios, porque inclusive se pode apresentar como a mais requintada cobardia, ainda que seja legal.

Com o dever de formar uma consciência recta, é preciso começar pelo princípio. Duma forma isenta, aceitar as verdades da investigação e do saber, bem fundamentado. E, para isso, um bom apoio será o do Dicionário de Bioética, que no tema da vida, quando se refere ao nascimento e desenvolvimento do indivíduo, afirma textualmente: “O zigoto, com a combinação dos dois genomas paterno e materno, é um indivíduo” (p. 1133). Como tal, é sujeito, e assim devem respeitar-se os seus direitos, o primeiro dos quais é o da vida (Declaração Universal dos Direitos do Homem). Ainda por cima é inocente e indefeso…
Não queiram lançar-nos mais poeira para os olhos. Somos profetas da vida. Esse é o verdadeiro estatuto que reclamamos.

P. Armando Duarte

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